1.26.2010

Aprendizagens que se dão como visagens...


Por Jurupinga, ou Ju na pica, antiga Juliana Bueno


Sobre o piloto automático...

Por que será que nosso piloto automático ficou condicionado no caminho do medo (interrogação) Meu piloto automático me leva para caminhos errados e é bom que eu saiba, para poder recuperar as rédeas sempre a tempo. O piloto automático camufla a intuição. A ela sim, percebo a importância de se dar ouvidos, mais que ouvidos, a importância de se dar passagem! Dar ouvidos, corpo e alma. Substância a nossa intuição. Ultimamente minha vida tem sido pródiga. A natureza tem sido pródiga. E minha intuição voltou a me falar!

Ainda sobre o tal piloto automático. Foi a observação mais complexa, o problema maior que tive que enfrentar na primeira pintura, a do ciclo da Vida, com o tema dos animais de poder. Acabada de chegar de viagem, meia noite de sono, o corpo ainda não adaptado, um pouco de “alterofilia físico-espeirito-emocional-artistico-criadora” rolou sim. E nessa alterofilia momentos de desencontro, de desconexão, dificuldade em encontrar o jogo, o grupo, os olhos. Qual o direcionamento(interrogação) Para quem fazemos(interrogação) Senti muito nitidamente os momentos em que entrava em chaves de representação. Me sentia tosca. Me sentia cansada, no entanto, não respeitava este cansaço, como se alguma meta devesse se cumprir, algum compromisso histérico com a vitalidade. É tanta bobagem que a gente põe na bagagem!

E pensar que

se toda chispa estalada da fogueira

virasse estrela verdadeira

colada na tela do céu

A noite seria tão clara!

A noite seria brilhante!

Seria...

o dia do dia!

De noite já seria amanhã!

Ufa! Cansei!

De noite eu durmo.

E pensar em

Toda chispa estalada da fogueira

Virando estrela verdadeira

Colando na tela do céu . . .

Escrita fluida sobre a vivência do sexo e nossas intensidades até então

A dificuldade em verbalizar, concatenar idéias. Dizer o que não vem da ordem das palavras, contemplar o que transborda qualquer dos nomes antes experimentados. Criar novos nexos. Na insistência e na prática do pensamento e da elaboração do subjetivo em outras linguagens é que esse se faz livre e criativo. Insistir. Teimar. Com suavidade, com persistência. Superar minha descrença em mim e seguir. Sempre seguir. Olhar o presente como perfeito e saber se entender e colocar dentro dele é prática de sabedoria, não de resignação, como eu poderia pensar há alguns dias. respiro.

Percebo que estaremos sujeitos a intempéries físico-emocionais e que devemos estar preparados para enfrentá-las sem culpa. Só a ausência de culpa é que permite que a cura se processe. Aqui tudo parece tão simples. A possibilidade da auto-observação, meditar-se a todo o instante e olhar-se como um rio a passar, sem se apegar a qualquer imagem prévia que se possa ter de si mesmo. Um imenso privilégio! É a prática do cuidado de si. Cuidar de si no outro. A ética do cuidado de si como prática da liberdade (Vale a referência a este texto do Foucault). Respeitar o próprio retiro, a própria debilidade. Não ser violento nas cobranças, esperando que o mundo pare de girar porque você gripou, ou porque quebrou o maxilar. Torçamos então para que a roda da vida gire e gire mais! e continue a girar e que as pessoas cresçam e que possamos, de fato, nos unir, nos irmanar em nossas potências. Na perfeição de nossas potências, sem falsas expectativas, criamos redes. Na expectativa criamos a falta.

Olhar o presente como perfeito e se compreender com perfeição dentro dele.

Amor, alegria e liberdade.

Amor, alegria e liberdade,

Amor alegria e liberdade!

...

Simples assim .

Entre um ponto e outro

O infinito

......................................

Simples assim

!

Na Kundalini encontrei um lugar de delicadeza. De suavidade no cuidado com o corpo, desfrute do prazer que posso propiciar a meu corpo e muita firmeza depois de um justo prazer. Sentei sobre o ísquios realmente habitando o corpo, sentei em mim como quem senta num trono, ali eu poderia ficar horas a fio e estaria pronta, firme como uma rocha que tudo testemunha, muito cala em suas marcas de tempo e só revela o essencial, sabedoria... A busca por uma não representação. Para não se representar na vida, deixar a força agir, ouvir as forças internas que pedem passagem, que se querem manifestar por canais livres. Hei de ser vigilante, agir com escuta constante para não me esconder de mim.

descolando...

Mavu, Osho leu Freud(interrogação)

Planalto Vulcânico ou Canto das Tartarugas, um dos meus muitos lugares no mundo!


. . . Quando os olhos se encheram de imensidão o peito careceu de fôlego . . .

Achei meu lugar no mundo. Quando achei meu lugar no mundo. Quando achei meu lugar no fundo de mim. Senti completude. Esqueci—me. Abandonei-me. Plenivivi! Um ponto, um átimo. Éramos eu e a pedra. Eu e a pedra do topo do mundo. Eu e o calor da pedra do topo do mundo. Eu e a segurança da pedra, no topo do mundo! Ali nada de mal podia vir! Tenho o tamanho de uma montanha, a minha montanha, meu topo de mundo.

A pedra vibrava, falava comigo, me contava a história das alegrias do mundo, dos povos alegres que viveram ali. Ai que encanto de mundo! E a água...! Perto de água toda gente é feliz! No meio da montanha, bem no meio da montanha de pedras, uma gruta! Uma gruta e água, uma água tão bonita que sou capaz de embasbacar de novo por falta de palavra melhor, astonished! Falando assim, em outra língua, quem sabe pareça ainda mais incrível do que estamos acostumados a imaginar quando lemos.

. . . Tenho a retina inundada de paisagens! O peito pleno de gratidão e amor! . . .

Aiê mamãe Oxum! Gratidão plena meu pai Xangô!


Reflexões pré-mortais ainda sob forte impacto de pedras e pinturas! Ainda vou rebentar!

Se eu pudesse guardar algo de mim para perpetuar, para plantar na vida, como aqueles homens fizeram naquele tempo, plantaria o meu melhor. Plantaria pedacinhos de alegria, porções prontas para a germinação de boca entreaberta, de pasmo diante de tanta beleza e perfeição. Plantaria minha gratidão a todos os que viveram e morreram pela História e pela História da Pré-História. Poria na terra os meus abraços mais profundos, minhas descobertas mais puras. Contaria histórias em pacotinhos de áudio, para que meu irmão do futuro pudesse compartilhar comigo minha própria voz e diria “eu te amo” e “agradeço por me ouvir” e coisas como “sempre duvide dos mártires” ou “procure relatos sobre a Guerra Civil Espanhola, um tema da História Antiga que é bastante fascinante” e, claro, “viver foi uma aventura incrível, grata por estar comigo agora!”

Estar firme sobre a rocha e sentir a vida pulsar. Compreender-me forte entre Terra e céu. Saúdo a força infinita e ancestral das pedras, que tudo observam e tudo guardam ao longo de décadas de séculos. Pedras captadoras, pedras transmissoras dessa energia vital que se perpetua, que não se esvai, que encontrou meios de se registrar e comunicar com os que vieram depois, bem depois.

Eu amo e agradeço a esses homens que registraram nas pedras, com tamanha generosidade, a sua alegria e experiência de passagem por essa existência.

I

. . . me pergunto como registrar as minhas, em amor aos homens do futuro!


! ! ! Necrofilia é amor ao futuro ! ! !

(Heiner Muller)

Nesse percurso de ida à Morte o que eu saúdo e o que começa a morrer(interrogação)


Eu saúdo o serviço, ao que posso aprender com meus amigos,

Eu saúdo ao Mavú!

Eu decreto a morte feliz ao Migué!

MORTE AO MIGUÉ!

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Havia uma aguia que tinha o fogo nos olhos,enchergava longe ate onde a vista não havista... Voava alto,alto e soltava sua voz livre no infinito.

Havia um gavião forte e rápido.Seu vôo era assertivo,sua força descomunal.Sua voz potente se ouvia em longas distancias e era admirado por todas as aves da planície.Um dia essas estupendas aves cruzaram seu olhar e se apaixonaram.e juraram nunca mais se separarem.Procuraram a sabia tartaruga pedindo a ela que os unissem num elo tão forte que eles nunca mais pudessem se separar.

A velha tartaruga olhando aquelas aquelas duas belezas e forças juntas,ficou por um tempo em silencio prescrutando...Entao sem a menor duvida atou as pernas das aves uma na outra,com um laço mágico que somente ela mesma poderia quebrar.

As aves agora unidas gozaram a alegria de estar junto a quem ama,sentindo o calor uma da outra.E assim ficou por um tempo ate que uma delas resolveu levantar vôo,descobrindo que com os pés atados ao companheiro o vôo se fazia impossível.

Primeiro tentaram de todas as maneiras mas acabavam trombando uma na outra.depois tentaram sincronizar seus movimentos e isto ate funcionou,por um tempo,mas somente para pequenos vôos.Mas aos poucos a insatisfação na alma daquelas aves,a fome do prazer dos altos vôos começaram a corroer suas almas.e a saudade logo virou magoa,e a magoa virou ressentimento,e o ressentimento virou raiva ,e aos poucos,as aves começaram a se bicar.Ja estavam quase se matando quando decidiram procurar a velha tartaruga.

--Sabia tartaruga,lhe pedimos um elo suficiente para não nos separar,mas isso agora esta insuportável para nos.Viemos aqui rogar que desate nossos pés por que estamos nos matando.

A tartaruga sorriu,como se esperasse por aquele momento.sorriu e disse docemente-

O que mantem duas criaturas unidas não e nunca se separarem,mas sim se manterem fiel ao seu próprio caminho e incentivar o outro a se manter leal ao seu próprio caminho.As aves se olharam e se lembraram de quando se conheceram,nos encontros dos altos vôos solitários,e desatado o elo,partiram livres no infinito .

Dizem,que se você tiver sorte,por vezes poderá velas juntas , partilhando felizes alguns de seus altos vôos.

Sol nascente na Lua.

No fim da tarde caminhamos para o paraíso, como é costume se chegar neste lugar. Seu chão, entre pedras, cariris, sapos e corais, um chão de estrelas. Nossa primeira vista, a visão. Mãos em tatos buscando as forças da nossa mandala. O Pé de Bode, dos primores escondidos sob as faces da Terra.

Temos a mega ostra da fogueira, a mega ostra da mandala, a mega ostra das bagunças, a mega ostra do tripé. Munidos, nada nos falta ou faltará. Estamos todos atentos a nós. Em nós.

Fora grita o Esplendor, o Esplendor está por todos os cantos, um grande Deus aqui presente. Das vivências diversas do corpo, em muitos sentidos, pulsões e direções, partimos para o mundo. Que a Vida nos trouxe Nós e a Morte nos traz o Mundo. O que dirão ainda as Estrelas? Por hora nos diz: estarmos. Estarmos, e estamos. Pouco a pouco o Homem vai descobrindo as maneiras de clarear os labirintos.

Nossa noite vem anunciar o dia, nela saudamos. Nela aprendemos a emanarmos um, num só. E em muitos, como as flores. As flores, este chão daqui se põe escasso de flores, embora do alto, flô esteja num cair sem fim. Como o infinito.

Os corpos se entregam a viver os corpos, nos entregamos a viver. A sentir sono, achar beleza, sentir prazer, anoitecer. No meio da noite sou acometida por uma grande velha e querida visita, Puppy. A Puppy, minha única cachorra da vida, desta que se foi até então. Que me embalou a infância, os primeiros amores, as maiores descobertas, que me conduziu pelo portal do Ser. E se foi, e ontem veio me visitar. Me cuidar, me relembrar. Amanheço.

Amanheço num quase dia, na aurora mais vasta já sentida. O que mandou o Homem pra cá enviou o Sol, pra lembrá-lo de seu nascimento, a cada novo dia. E da infinda possibilidade de renascer, a cada alvorecer, a cada outro Ser.

Caminhar é preciso, e delicado. Há que se conhecer a delicadeza dos passos. Há que se descobrir poeira, pra Poder virar estrela. E quanta graça há nos pássaros, nas borboletas, nos grilos, nos bichos-pau, e mesmo, nas moscas. Ainda as moscas, e não mais elas. E não mais eu, e não mais nós.

Como é belo ver o vôo da Águia de cada espírito.

Nas pinturas a contensão de Espíritos, de espíritos de mais sábia sabedoria que em nós. Não pelas partículas, mas pelos possibilidades e permissões do ser, e Estar. Pois mais sábio que os fósforos, pedras. Mais sábio que o pensar, matéria. Mais sábias que as palavras, voz. Mais sábia que a disputa, dança. Mas, sábio, buscar. Procurar. Pró-curar-se em Ser.

De onde virão suas bailarinas? Que alto o desafio do homem contemporâneo. Que alto, sempre, o desafio do homem em seus contemporâneos. Quanta força não teremos que reter pra não esquecermos, nunca. Pra não esquecermos nunca. Pra não esquecermos, jamais.

Doar-se.

Dar-se.

apenas

Coral.

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A esta altura estamos pelo meio de nossa imersão, quando viemos pra cá nosso intuito era o de investigar a condição humana, em contato com o existir, em contato com a vida, em contato com a natureza. Esta natureza. Numa lente de aumento que buscava nos aproximar dos sentidos humanos transcorridos por aqui há tanto tempo, como forma de arriscar palpites, sem pretensão científica-objetiva, com pretensão científica-subjetiva, acerca destes homens, seus motes e motivos. Como forma de olharmos para nós, homens, em nossos motes e motivos, e revelar as proximidades, e revelar as distâncias, e transitar entre extremos. Entre extremos comportamentais, entre extremos criativos, entre extremos tecnológicos, entre extremos.

Hoje acordo, deitada na rede do lado de fora da casa, sonhando sob a árvore e o varal, com o frescor do vento soprando a sombra que ainda me protegia do sol, hoje acordei com a sensação da fragilidade. De como são frágeis as pretensões dos homens, seus desejos, suas metas, seus objetivos, seus empenhos em alcançá-los. Como parecemos com as formigas desesperadas lutando pra sair do escorregão que sem querer as leva aos copos de sucos. Como é pouco passar uma vida na tentativa de construir algo, de conquistar algo, de se chegar a algo, perdendo a preciosa chance deste algo já ser, da conquista já ser, de já estarmos.

Hoje acordo assim, e diante da dúvida e insegurança sobre se estes rascunhos todos são publicáveis, rio a mim e me puxo o tapete. Pois perene, perene foi o mar que aqui viveu há muitos e muitos anos, perenes foram os rios, perenes foram as vidas, perene sou. E assim, me liberto.

Coral

1.22.2010

impressões entreExtremos

A corrida pra correr do que não dá tempo, e chegar no tempo, que foi, será, e mais, é. A corrida pra lembrar nos dias que a vida é neles, e nenhum outro recipiente de existência contém, contém a vida, os dias, contém respirar. Respirar. Respirar do respiro que manda calar os passos, que sei não que sucede, que parece que dados os dedos nuns grãos de terra e a gente se perde. E a gente se perde em busca de se buscar, e a gente se perde em busca de se achar.

Eu, quando me ponho a calar os passos, é quando tudo parece se clarear. É quando tudo carece de cantar, de se sorrir e se chorar. Do choro que escorre dos olhos como arco-íris, como cor de alegria, como céu azul nascido das águas. E nada me diz porque tudo isto digo, que era pra sair algo dos dias, da prática perspectiva científica dos dias, mas não consigo. Calha em mim que nada que é ordem sai de mim, o caos gerador me habita, me toma, me banha. E nele me acho. Onde não é caos, é corrente, é sangue, é mover-me, pra fora. É jorrar o sentir, sem forma, sem formar, sem mais.

Coral.

Mavu - proj. entreExtremos

impressões entreExtremos

Olhos fechados: vivencia de 24 de olhos vendados. Estado de concentração, atenção e presença

Não é nada fácil realizar as atividades cotidianas nesse outro tempo, nessa outra condição. No inicio vm um desespero porque a mente projeta e prepara muitos “afazeres”, mas a realidade é que cada coisa tem que ser feita com o seu cuidado e atenção necessária. Até que em um certo momento corpo\mente se acostumama dedicar-se com inteireza a cada sutileza.

O tempo se dilata. A atenção e a vitalidade pulsam lá dentro e se externalizam com precisão. A escuta está por entre os poros.

O conforto de estar sobre meus ísquios...

O conforto de estar comigo...

O conforto de estar no breu do meu ser...

O conforto de silenciar meus pensamentos...

O conforto do silêncio é indescritível. Plenitude. Dele não tenho vontade de sair.

Roda no fogo

Esse estado de concentração fez com que minha sensibilidade estivesse aflorada. Eu não tinha pra onde correr. As vezes a consciência cotidiana vinha com um interrogatório:

É pra dançar? É pra se jogar? Ta certo? ta invadindo o espaço do outro?

O bom é que na maioroa do tempo me deixei ser canal pra fluir toda a dança da fogueira e a dança que brotava em mim. “é uma gira? Danço um orixá? Somos performers? Temos que significar?” Eram questões que pululavam mas que iam se desmoronando qundo eu ia aos poucos sentindo que a dança que tinha que ser dança era a dança do prazer, a dança do coração, a dança do estado amoroso. Algo imensamente libertador esse estado interno que se revelava nas profundezas como uma pedra bruta, uma larva... e quando esse estado era força pulsante eu era dançarino, sacertode, água, benzedeiro, criança e velho – os que eu me lembro com mais clareza. E tudo isso somado a uma consciência corporal dos gestos, movimentos e ações. Desfronteirização dos limites. Loucura boa, prudente. Um permitir-se, lançar-se.

Passo-a-passo

Deixe que meus olhos te guiem

Deixe que meus olhos te fazem guiar

Deixe que o caminho se apresente

Deixe que caminho se ausente

Juntos passo a passo vou seguindo

Juntos no caminho vou sorrindo

Faça dia, chuva, faça sol

Tenha pedra, espinho ou anzol

Alegria Amor Liberdade

O tripé que dá suporte a experiência do Corpos.

Assim como a meditaçõa tem o centramento na auto-observaçao\atençao\respiraçao\concentaçao, o Corpos tem nesse tripé o estimulo eu pulsiona o estar. Sair dele é dar permissão para que a mente faça o desserviço de gastar energia do corpo mentalizando pensamentos atodestrutivos que afastam os seres da presentificação do agora. Estar no momento agora é dedicar-se com a potencia que se tem com o capricho, com a iteireza, a cada instante. Vozes moscas lixo: expectativas, julgamento de valor (bom ou ruim? \ certo ou erado?), comparação, inferioridade, “e se...”, etc...

Açaí

Mavu - proj. entreExtremos

3 na nova = força triangular da geração sob sol e arrebol.

Logo de manhã, bom dia, e arrumar as coisas. Tintas, calcinhas, pajelanças, instrumentos. A proposta de sair com o nascer do sol em meio a 15 pessoas vai se deixando no relógio. Mas relógio aqui não há, então, tudo segue em hora certa. Pois é impressionante a força que o correr tranqüilo da vida tem quando a eles nos deixamos entregar. Ainda assim, é preciso estar atento ao relógio, é preciso dar combustão aos guardiões. Que aqui nesta casa cada um guarda um algo, e em duplas ou trios temos guardadas nossas maiores intenções. E ainda, aqui nesta casa cada um guarda a si, guardando também o outro, que amor e alegria não nos faltar cair pelos cotovelos. E ainda, cada vez ainda mais, graças.

Antes de sair fazemos um roda, ficamos em silêncio ao lado das árvores, de pés na terra, sob céu azul cristalino feito azul celestial. Nossas mãos são dadas, nossos peitos também. Alguns dizeres de boas vindas e outro início, que por aqui estamos sempre, também, nos iniciando. Mas este início é de termos enfim nosso bando fechado, chegados os últimos, com ainda alguns outros pelo último ciclo da experiência a chegar, chegamos todos. Até nova iniciação.

Aos recém viajantes, que adentraram nossa morada na calada da madrugada, olhos vendados, seguindo o percurso e sendo guiados, pra esquecer da vida que ficou lá fora. São levados, a tocar nas árvores, a banhar de terra os pés, a andar em zigue-zague, a cheirar as ervas da rua, a ouvir umas canções, a chegar na toca. Toca, a toca da primeira pintura, a toca dos nossos animais de poder, a toca dos oitenta, a toca, pela língua dos nativos, do finado Henrique. Que foi onde sua família viveu, muitos anos, que foi onde casou, que foi onde pariu os filhos, que foi onde os caçou o que comer, que foi onde morreu. A toca, em língua nativa ainda mais antiga, que abrigou, em alguma película de tempo, quem nas paredes marcou suas gravuras.

Uma toca funda, com a parede da frente de paralelepípedos, já marcando os passos das pesquisas civilizadas. Com a parede de fundo de nascença, manchada em cores com os pós pigmentos desta terra, tendo a fuligem dos jantares da família do Henrique em seu teto, semi-lunar. Na área civilizada da toca uma fogueira, dos mais antigos nativos, abafada em tijolos para análise, civilizada. De chão irregular, de parede irregular, de corpos vendados que buscam enxergar se entregando ao solo, pelas vistas do tato, de todo o corpo. O espaço vai sendo preenchido pela necessidade da nossa disposição, em brincar de sermos outros, de sermos mais e além, em ainda de fato, sendo civilizados. Num canto nosso canto de cores, noutro canto nosso altar, noutros, os instrumentos, estes que nos guardam a alegria, a atenção, a emoção.

Começam os corpos a serem feitos, como se viessem sendo feitos do barro, de um barro de mil cores, de cores de mil formas, de formas de mil corpos. Iniciada nossa sessão, nossa certa longa sessão, nossa exaustiva demasiadamente longa sessão. Mas tudo ainda em hora certa, pois é impressionante como são certas as horas que não cabem no relógio, tudo em seu tempo, revelando as forças que são do determinado tempo revelar. Que são determinadas ao saber, mostrar-se.

Ao fim, ciranda. Cirandar cirandar, todos cirandando, em consagração às danças circulares, às danças democráticas, às danças populares, à alegria, à comunhão.

Lá fora, da toca, que ainda é dentro, que ainda é toca, a toca do mundo, lá, o sol vai dizendo que chega a noite. O arrebol, é no arrebol que os bichos se põe pra fora. No arrebol os sentires se exaltam, os homens tem as entranhas postas em maré, no arrebol os bichos saem da toca, os bichos voltam a face para os caminhos do mundo.

Na terra nossos passos nascidos em concreto buscam se achar, mas em outros passos, de oitavos maiores. Olhos em distintas forças se olham, respirações exaladas desde o profundo ventre, as peles rasgam a trilha, entre plantas, entre espinhos, formigas, aranhas, as peles, após rasgadas suas vestes, brincam, buscam, pulsam.

Como poeiras em máxima consciência de suas existências investigamos o sentir, investigamos o existir, investigamos a vida, de ontem, gravada por todos os cantos. De hoje, gravada nas células que partilham seus sopros sob este céu, em arrebol.

Coral.

1.18.2010

Fotos do entreExtremos - proj. Árvore

Estas são as fotos do entreExtremos até o dia 18/01/10 - Serra da Capivara

por Marcos Camargo

1.04.2010

entreExtremos - Roteiro e Cronograma do Documentário

Documentario a ser realizado na Serra da Capivara - jan/10 - ProjetoÁrvores / entreExtremos



1.01.2010

entreExtremos – Projeto Árvore em residência no Parque Nacional Serra da Capivara.

clique aqui para ver todo o conteúdo relativo ao entreExtremos

O que é?

O objetivo deste ramo é a realização de uma residência artística em caráter de imersão nos limites territoriais do Parque Nacional a fim de se possibilitar experimentações multimídias executadas em seus limites geográficos e também arredores, registros documentais sobre o específico patrimônio nacional e sobre as interações estéticas acionadas; bem como, como conteúdo para criação de performance multimídia e realização de instalação, ambas em caráter de intervenção urbana, a serem realizadas nas cidades de São Raimundo Nonato - PI e São Paulo - SP.


A ocupação do território geográfico-material e imaterial do Parque Nacional da Serra da Capivara, e o cumprimento de uma rotina artística-vivencial que dão suporte a experimentações estéticas-rituais, que friccionam um diálogo entre as memórias ancestrais locais e investigações contemporâneas de modos artísticos e humanos.

A imersão se realizou em torno de práticas corporais e meditativas, de proposições vivenciais performáticas e rituais, de discussões processuais e criativas, de dietas e disciplinas coletivas referentes ao dia-a-dia, de execuções de ações artísticas tanto em múltiplas e independentes mídias quanto em expressões multimídias, de exercícios de contemplações poéticas do estar, e do simples vivenciar.


O resultado da imersão aparece em diversos formatos: registros documentais sobre a residência artística e sobre o Parque Nacional, trabalhos fotográficos, em composições textuais, experimentos e confecções de obras sonoras, obras visuais nas áreas da pintura, do grafite e da instalação, debate público final e ações performáticas nas cidades de São Raimundo Nonato e São Paulo.


Cronograma São Raimundo Nonato

– imersão artística no Parque Nacional Serra da Capivara / 09 a 25 de janeiro de 2010.

– realização de ações performáticas em São Raimundo Nonato e vilarejos arredores:

22 de fevereiro

17:00h - contação de história na Praça da Matriz, São Raimundo Nonato.

26 de janeiro

17:30h - ação performática com pintura corporal no Sítio do Mocó.

28 de janeiro

18:00h - montagem de acampamento interativo na Praça do Abrigo, São Raimundo Nonato.

29 de janeiro

10:00 - prática interativa com transeuntes no centro de São Raimundo Nonato.

30 de janeiro

20:00 - projeção de entrevistas sobre o acesso da população ao Parque Nacional Serra da Capivara e imagens da imersão do grupo no parque - debate com o prefeito Pe. Herculano, Praça do Abrigo, São Raimundo Nonato.

31 de janeiro

17:30h - ação performática com pintura corporal no Bairro do Garrincho.


Cronograma São Paulo

22 a 26 de fevereiro

grafites com máscaras de pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara em diversos pontos da cidade.

– realização de ações performáticas em São Paulo:

23 de fevereiro

16:30h - prática interativa com transeuntes da Av. Paulista (início Paraíso / término Consolação).

20:30h - fogueira ritual com música e projeção de imagens da imersão do grupo no Parque Nacional Serra da Capivara - Praça Roosevelt.

24 de fevereiro

18:00 - intervenção performática com grafite e música (esquina das ruas Apinagés com Caoiwás, bairro de Perdizes).

25 de fevereiro

20:30 - música e projeção de imagens do Parque Nacional Serra da Capivara e da imersão do grupo (local a ser definido).

26 de fevereiro

15:30h - ação performática com pintura corporal - Parque da Água Branca e saída do Minhocão.


Ficha Técnica

Idealização, concepção e performer: Carol Pinzan

Performers: Fafá Salles, Ivana Calado, Juliana Bueno e Thiago Amaral

Estagiária: Rosany Lima

Performers convidados: Marcio Maracajá e Luciana Araujo

Criação sonora: Ricardo Calado

Artes visuais: Fafá Salles, Marcio Maracajá, Mavutsinim e Roberto Bieto

Equipe áudio-visual: João Paulo Azevedo e Tom Ribeiro

Fotografia: Marcos Camargo

Blog: Pedro Mendes e Tom Ribeiro

Crítico processual: Luis Fernando Ramos

Mestre mateiro: Seu Chico dos Macacos

Produção e administração: Ana Lucia Guimarães